sexta-feira, 12 de outubro de 2007
O ano que não vivi. O ano que jamais esquecerei.
1977 começa para mim em 1990.
Meu pai, vendo minha cara de besta ao ver aquele estádio lotado na final do Campeonato Brasileiro, dizia:
"É que você não viu em 77..."
Eu não queria saber de 1977. Queria saber do presente. Estávamos prestes a sermos campeões e ele vem me falar de coisa de 15 anos atrás???Ahhhhh poupe-me né!??!
Mas 1977 se faria presente na minha vida nos anos seguintes. Até os dias de hoje quando Rogério (enquanto esperamos o ínicio de um jogo no Morumbi ainda vazio) pergunta pro meu pai:
"Edson...como estava isso aqui em 77??"
Ao ouvir a frase ele incorpora um jovem rapaz que aos seus 17 anos vivia um momento para toda a vida.
Enquanto Rogério e eu estamos sentados na arquibancada ele levanta, tira o cigarro do bolso, o isqueiro e acende o infeliz (lembra que eu disse que o Corinthians ainda vai matá-lo??). Dá a primeira tragada e joga a fumaça pra cima. Está iniciada a sessão:
"Tinham 160 mil nessa porra!!!"
"Como tinha tudo isso???Falam que tinha 140..." um dos dois ouvintes pergunta.
"Falam...mas tinha uns 160 aquele dia..."
Ele estava lá naquele dia. Quem poderia duvidar? Aliás, nos 3 jogos daquela decisão. Quer dizer, ele estava lá durante 17 anos.
E ele conta sobre aquele único jogo durante um longo tempo até quase no início da partida. Conta com todos os detalhes possíveis. Parece um garotinho que vai a escola pela 1ª vez e conta tudo pra mãe quando volta pra casa.
Então meu pai chega perto de um de nós e: "Vem aqui...". E coloca um agachado atrás do outro. Em um único espaço da arquibancada. Não tinhamos como nos movimentar. Impossível de ficar assim daquele jeito.
"É assim que a gente tava. Três neguinho, um em cima do outro. Desde 12:00. Sem água e um sol da porra. Não dava nem pra levantar o pé se não você não colocava mais no chão".
Eu imaginava aquele Morumbi do jeito que meu pai estava descrevendo. Antes eu achava que era o efeito da nicotina que fazia aquilo com ele. Hoje, eu vejo que é o efeito da Fiel.
Meu pai disse que sairam do estádio desacreditados, que a vitória teria que ter sido naquele domingo. E não foi. "Confesso que pensei que não seríamos campeões". Acho que ele e mais milhões na época. Contra ou a favor.
Em outros jogos no Morumbi ou em outras oportunidades ele descreve como foi aquela noite de 13 de outubro de 77. Geralmente quando elogiamos a torcida ou exaltamos um título.
"Depois de 77 nunca mais foi a mesma coisa." ou "Vocês comemoram um brasileiro desses. É que vocês não estavam aqui em 77".
Ele diz isso com uma arrogância, uma enpáfia. Parece até que é superior aos outros. Mas ele é mesmo. É um privilegiado.
"Fui com um amigo meu da pensão que eu morava". Assim ele começa a descrever aquela quinta-feira, 13.
"O ingresso não era essa loucura que se é hoje pra conseguir. Compramos na hora. Ou já tinha comprado...não lembro".
Meu pai descreve aquele dia como o segundo mais feliz de sua vida. Só eu mesmo para ser uma alegria maior.
"Era um foguetório do cacete. Depois do gol então. Pra torcida não teve mais jogo".
Segundo ele, era velho, criança, homem, mulher. Todos choravam. Diz que a emoção dele não foi tanta com o título (aqui ó!) mas sim com as pessoas a sua volta. E especialmente com um senhor de idade, que chorava copiosamente e vira pra ele e fala: "Não acredito!!Meu time é campeão!!Meu time é campeão!!". Meu pai vai as lágrimas junto com aquele senhor. E 30 anos depois nos contando essa história.
"Porra...olha só...to todo arrepiado!!!" diz Rogério, mostrando o braço para nós dois.
Mais dramático ainda é quando ele resolve contar sobre o sofrimento que era presenciar aquele jejum.
"Chegou um momento que pensei que aquilo nunca terminaria."
Parte dessas histórias eram contadas a mim, na volta dos jogos. "Quando o Corinthians jogava fora, cantavam Parabéns". Esse "Parabéns" citado é esse mesmo que você esta pensando, de aniversário. Comemoravam nosso "aniversário de fila".
Ele, que odeia a imprensa, fala com um certo nervosismo da imprensa daquela época também:
"Po...por onde você olhava o Corinthians era piada. Jornal, Tv, rádio, revista...qualquer lugar. Tudo que era programa fazia piada nossa."
E ele sempre termina dizendo:
"Vocês não sabem o que é acordar desejando que teu time seja campeão. Dormir desejando que teu time seja campeão. Vocês são muito mal acostumados."
Concordo plenamente com ele.
Graças ao meu pai, não sei somente o que foi o dia 13 de outubro. Não somente o ano de 1977. Sei todo o sofrimento de uma torcida. A angústia por ela vivida. Lágrimas derramas. Provações e desafios. Barreiras quebradas. Sentimento posto a prova. Fenômenos sociais causados por essa nação que se fez explodir numa alegria sem tamanho. Uma alegria que dura 30 anos. E que, pelo visto, será eterna.
Assim como os 160 mil fiéis...o velhinho chorão...as piadas dos outros....
Obrigado pai. Obrigado Corinthians.
PS: Essas histórias são sempre contadas pelo garoto de 17 anos que incorpora em meu pai quando pronunciada a frase "Como foi em 1977??". Ele nunca me fará esquecer daquele ano...
domingo, 7 de outubro de 2007
E assim nascem os bambis
Antes de começar o post (apesar de que já comecei,rs) quero deixar bem claro uma coisa:
Clássico na minha opinião temos somente 1 dentro de cada estado: Fla-Flu, Grenal, Ba-Vi, Atlético x Cruzeiro e o nosso Corinthians x Palmeiras são alguns exemplos.
Logo Corinthians x São Paulo não é clássico. Mas é uma bela partida entre dois grandes de SP.
E dentre essas belas partidas lembro de uma onde começou esse reboliço que há hoje em dia sobre o apelido de "Bambi" dado ao clube mais afeminado do Estado.
Bambi, pra quem não sabe, é um personagem da Disney. Um meigo veadinho.
E se engana quem pensa que isso sempre existiu. Mas não mesmo.
O que existia era o apelido de "bicha", "pó de arroz", essas coisas. Tudo vindo do fato do São Paulo ser um clube mais eleitizado, de "frescos" e para o povo, quem é fresco é "mulherzinha",rs. Mas não era nada muito ostensivo como é hoje com o "Bambi".
Corria o ano de 2002. Na semana da partida, os holofotes estavam mais fortes que o normal sobre esse jogo por diversos motivos: é um grande jogo, os dois vinham de diversas decisões seguidas, a rivalidade estava acentuada e o principal motivo e foco maior dos holofotes: Ricardinho, ex-ídolo da Fiel agora era tricolor (depois de uma conturbada transferência, diga-se de passagem) e faria sua 1ª partida contra o Corinthians. E em uma de suas descontraídas entrevistas, o até então grande volante Vampeta, faz o que mais gosta e sabe: cutucar os rivais:
"Quando ele estava aqui nós os chamávamos de Bambis..." responde Vampeta após uma pergunta sobre Ricardinho.
E repórter ADORA colocar lenha na fogueira:
"Explica melhor essa história Vampeta!!!"
Pois bem. Ele explicou e agora os Bambis são reconhecidos internacionalmente como Bambis,rs.
Mas vamos a partida.
O Corinthians tinha um ótimo time, muito bem entrosado e, principalmente, muito bem treinado por C.A.Parreira. Conquistamos 2 títulos naquele ano. E éramos favoritos no Brasileirão.
O São Paulo tinham um time melhor que o do Corinthians e com um grande diferencial: o craque agora era deles.
O Morumbi recebeu 50 mil pessoas naquela tarde cinzenta do dia 29 de setembro. E grande parte dela entoava um grito que se tornaria tradicional nos confrontos contra o tricolor paulista: "Bambi!!Bambi!!!Bambi!!!".
Se a intenção da Fiel era fazer o que a mesma já havia feito com o Porco, dessa vez fracassamos,rs. Essa fama nenhuma torcida do mundo gostaria de ter.
Infelizmente não lembro de grandes detalhes daquela partida. Lembro que o São Paulo vinha “babando” para ganhar de nós.
Gil abriu o placar, mas Reinaldo virou em pouco tempo. E faltavam mais ou menos 10 min para terminar o jogo quando isso ocorreu.
O lado de lá das arquibancadas explodiu. Finalmente eles estavam ganhando do Corinthians.
Estavam.
Até aos 45 min do segundo tempo quando numa jogada quase idêntica ao gol de Gil (aquele do drible da vaca) na Final do Rio-SP ele mesmo recebe a bola do mesmo Vampeta na ponta esquerda e parte pra cima do marcador. Mas com um leve toque, o suficiente para deslocar o zagueiro, ele coloca a bola de lado e solta a bomba. Rogério Ceni nem a viu passar.È GOL do Corinthians.
E comemoramos como se fosse uma vitória. Xingamentos pra cima de Ricardinho foram absolutamente comuns naquele momento. Se arrependimento matasse, ele teria sido o pioneiro no Brasil em “mortes em campo”.
Olho pro Rogério (meu amigo) e digo:
“Porra...me veio na cabeça o lance da final!!”
”Caralho!!!Pra mim também!!Pensei que ele tentaria o mesmo drible” responde ele com a euforia natural de um gol no finalzinho.